The mask fall
Paula could not be any happier. “A girl,” she repeated staring at the ultrasound. She felt so happy because after almost losing hope, she finally got pregnant. Dr. Queiroz, a known doctor of the family, and Ricardo, Paula's husband, were also in the office, both smiling due to her happiness.
Everything was fine. Paula changed some habits to adapt herself to her new condition, like eating better and practicing exercises, something detestable before. She took all reasonable care, considering all risks associated with her age and medical history. She could never have pictured that day.
It was lunchtime. She was setting the table, when everything became dark. She passed out and got the news when she woke up in the hospital. She had lost the baby. She almost couldn’t believe it. "Again?" she asked herself while she remembered all the suffering she had been through a year ago. What was wrong after all? She did not know, or rather, did not want to remember.
After a few days, Paula finally went home. She met her friend Marcela to amuse herself. Marcela was worried and curious when she got to the meeting place. She asked Paula:
“How are you, darling?”
“I'm fine as far as possible,” Paula answered.
“It is your second miscarriage... That´s too bad. I'm so sorry for you.” Marcela then asked:
“Do you think something has caused it? Maybe a current or past habit? Maybe something in the past?”
"Something in the past.” Suddenly, Paula could feel the same cold from before. The same fear. She heard her own screams echoing in her head. She remembered that mask, that horrible mask. "It can’t be. It can’t be, can it? But…”
“Paula... Paula... Paula?”
“Hi. I’m sorry. I'm not feeling okay, I'd better go home. I will take a taxi, and we will talk to each other tomorrow... I’m sorry again.”
Her way home had never been so long, so Paula could decide what to do. She arranged the medical examinations that Dr. Queiroz had asked and that she refused to do previously because she thought she was perfectly well. The results came out. It was confirmed. Her secret had to be revealed, mainly because Ricardo had always been a good, lovely and also mature man for being older than his wife. The perfect husband had to know the truth.
She was anxiously waiting for Ricardo at home. When he arrived, she started saying:
“I need to talk to you.”
“Go ahead, honey,” he sweetly answered.
“I don’t know how to start. I'm afraid that you will hate me or even leave me.”
“Stop being silly, Paula! That would never happen.” He picked up a box, handed it to his wife and said:
“Whatever you say, just keep it and open only when I ask you, okay?”
Paula was delighted with her husband’s being calm. She took the box and nodded. She felt more peaceful because of that box and what he had said. "Whatever you say" sounded like "No matter what happens, I will keep loving you." Then, she started:
“Twenty years ago, when I was only sixteen, I fell deeply in love and I stupidly surrendered. What could not happen, just happened. I got pregnant and I did not know what to do. I told the guy, and he promised he would support me. He even talked about marriage, but in the very next day he disappeared and I never saw him again. I could not tell my mother, I had always been a good student, a role model, she was so proud of me. I could not disappoint her like that. Then I heard some classmates talking about abortion clinics, and I saw it as my only way out. I saved some money, and before the end of the third month, I went to one of those clinics. I vaguely remember, but I do, the cold room, the poor lighting, the ‘doctor’ with a bloodstained apron opening the door for me, the mask he wore to cover his true face, the rudimentary tools. I remember the fear I felt. I want to apologize for not telling you before, I did everything to forget it, but now I know that I can’t give birth due to that procedure. Dr. Queiroz confirmed that the method used by that ‘doctor’ let me after-effects. And even worse, when I researched about that clinic, I read about many other women reporting having problems or being completely infertile. They called him crazy! They said they remember seeing him excited and smiling during the procedure. He seemed to really enjoy what he was doing. I feel so ashamed, so sick, so sad. I did not want us to go through it, Ricardo. I love you so much...”
Ricardo did not say or express anything. He just pointed to the box. Paula opened it, and when she saw what was inside, she started trembling. The box fell to the ground. The mask, that mask was there. In shock, she lifted her head and looked at Ricardo's eyes, and then she realized who the real man in front of her was.
Ricardo coldly said:
“Did you like my mask?”
“Aaaaaaah!” Paula's scream was the last thing heard in that room.
O cair da máscara
Paula não poderia estar mais feliz, "será menina!" repetia com os olhos fixos no ultrassom. Tamanha alegria se dava ao fato de, após quase ter perdido as esperanças, finalmente conseguiu engravidar. Presentes na sala estavam ainda o médico, conhecido da família, Doutor Queiroz e Ricardo, marido de Paula, ambos sorridentes em meio a tanta euforia.
Tudo corria bem, Paula mudou alguns hábitos para se adequar a nova condição, passando a comer melhor e até a praticar exercícios físicos, algo detestável tempos atrás. Tomando todos os cuidados que deveria, isso devido aos riscos proeminentes de sua idade e de seu histórico, jamais imaginaria aquele dia. Era hora do almoço, estava colocando a mesa, quando viu tudo escurecendo a sua volta... tinha desmaiado e assim que acordou no hospital recebeu a notícia, havia perdido o bebê. Quase não acreditou, não poderia ser verdade, "de novo?" questionava a si mesma, recordando de todo o sofrimento que tinha passado a um ano atrás, o que havia de errado no final das contas?... Não sabia, ou melhor, não gostaria de lembrar.
Alguns dias se passaram, e Paula finalmente sairia de casa, encontraria Marcela para se distrair, chegando ao local, a amiga preocupada - e curiosa - logo perguntou:
- Como você está amiga?
- Bem, na medida do possível. Respondeu Paula.
- Segundo aborto espontâneo... lastimável. Sinto muito. Comentou Marcela que perguntou em seguida:
- Você não acha que algo tem causado isto? Algum mau costume de agora ou de antigamente? Algo no passado talvez?
"Algo no passado"... no mesmo instante Paula pode sentir o mesmo frio daquela vez, o mesmo medo, ouvia seus gritos ecoando em sua própria cabeça, lembrou-se daquela máscara, horrível máscara. "Não pode ser, não poderia ser, será? Mas..."
- Paula... Paula... Paula?!
- Oi, desculpa, não estou me sentindo bem, acho melhor voltar para casa, pegarei um táxi, nos falamos amanhã, desculpa novamente.
O percurso nunca foi tão longo, Paula pôde assim decidir o que fazer. Marcou os exames que Doutor Queiroz havia pedido e que se recusara a fazer anteriormente por se achar cem por cento bem. Saíram os resultados, estava confirmado. Seu segredo precisava ser revelado, afinal, Ricardo, homem sempre bom, carinhoso, maduro pela idade mais elevada do que sua esposa, o marido perfeito tinha que saber a verdade.
Esperava ansiosa por Ricardo na sala, e assim que ele entrou, disse:
- Preciso conversar com você.
- Diga meu amor. Ricardo respondeu docemente.
- Não sei por onde começar, tenho medo de que passe a me odiar por isso, que me deixe...
- Pare de besteira, Paula! Isso jamais aconteceria. Dizendo isso, pegou uma caixa, entregou-a para a esposa e disse:
- Independentemente do que disser, fique com isso, abra apenas quando eu pedir, pode ser?
Paula encantada com a calma de seu marido, pegou a caixa e assentiu com a cabeça, estava mais tranquila, pois aquela caixa e a frase "independentemente do que disser" soaram como "não importa o que aconteça, continuarei te amando". Assim, colocou-se a falar:
- Há vinte anos, quando tinha apenas dezesseis, me apaixonei perdidamente e iludida me entreguei, o que não podia acontecer, aconteceu... fiquei grávida, não sabia o que fazer, contei para o garoto que me prometeu apoio, falou até em casamento, mas já no dia seguinte sumiu e nunca mais o vi. Não podia contar a minha mãe, sempre fui boa aluna, um exemplo, dava tanto orgulho, não poderia decepcioná-la desse jeito. Foi então que ouvi colegas falando sobre clínicas de aborto, vi nisso minha única saída, juntei algum dinheiro e antes de completar o terceiro mês, fui a uma dessas clínicas, me lembro vagamente, mas lembro, a sala gelada, a iluminação fraca, o "médico" com o avental ensanguentado abrindo a porta para mim, a máscara que usava para cobrir seu verdadeiro rosto, as ferramentas rudimentares, lembro do medo que senti... peço perdão por não ter contado antes, fiz de tudo para esquecer, mas agora sei, não sou capaz de segurar a gravidez graças àquele procedimento, o Doutor Queiroz confirmou que o método usado por aquele "médico" me deixou sequelas, e o pior, pesquisando sobre aquela clínica li sobre muitas outras mulheres relatando também terem problemas ou serem totalmente inférteis, elas o chamavam de louco! Afirmavam recordarem dele empolgado e até sorrindo durante o procedimento, ele parecia realmente se divertir com o que fazia. Sinto-me tão envergonhada, tão mal, tão triste, não queria que passássemos por isso, Ricardo, eu o amo tanto...
Ricardo nada disse, nada expressou, apenas apontou para a caixa. Paula a abriu, assim que viu seu conteúdo começou a tremer, a caixa foi ao chão, a máscara, aquela máscara estava ali, em estado de choque levantou a cabeça e olhou no fundo dos olhos de Ricardo, e foi nesse momento que ela conseguiu ver quem era o verdadeiro homem a sua frente.
Ricardo friamente disse:
- Gostou da minha máscara?
- Aaaaaaah. O grito de Paula foi a última coisa ouvida naquela sala.
Rafaely Ayumi Hara
RA 201503845
