This article's main objective is the discussion of alterity in Mary Shelley's work, its representation in art and the way we deal with it in society.
Despite being rejected since the moment he was brought to life in the book, Frankenstein’s Creature found place in the heart of Penny Dreadful’s audience.
The television program shows us a brand-new version of the classic horror stories. In the Victorian drama, characters like Dracula, Frankenstein and Dorian Gray live in the same lugubrious London and interact with each other thanks to Vanessa Ives, the main character who connects them all.
For they suffer deep marginalization, these well-known freaks – mainly Frankenstein’s Creature – are used to represent a character we might recognize in the figure of a friend, a relative or even in the mirror: the outsider.
The Cambridge Dictionary defines “outsider” as “a person who is not involved with a particular group of people or organization or who does not live in a particular place” or “a person who is not liked or accepted as a member of a particular group, organization, or society and who feels different from those people who are accepted as members” and even as “a person or animal with only a slight chance of winning”. Analyzing these definitions, it is not very difficult to imagine that if someone is an outsider, one might like to feel represented by a TV show character, which explains why the audience has such a big affection for the Creature. The fact is that, as weird as it may sound, a great number of people are outsiders. Actually, the majority.
Most people feel unaccepted and underestimated at some point of their lives. You do not have to be a real zombie to be seen as one. Maybe you just have to wear an unusual kind of clothing. Or be a man and wear lipstick. Or be a woman working at a place where there is a male hegemony. You just have to be poor, an immigrant or an introvert...
Sometimes, the reason someone feels like an outsider can even be “silly”. You can be surrounded by people a bit richer than you. You can be new
at school. Anything. What changes is the level of “outsiderity” you take.
Certainly, if you are a black lesbian Jew stranger in a wheelchair, there is a bigger chance you will face more discrimination than someone who corresponds to what society considers acceptable. Nevertheless, the main idea is the same: most of us has felt at least a little of the harm of marginalization.
However, if that is true, if almost everyone knows how hard it is to be an
outsider, why don't people usually show empathy for the so-called freaks? Well, now we can go back to Frankenstein – this time, the book.
When Doctor Frankenstein was giving life to his creature, he wasn’t worried about what to do with it after he had finished (he could only think about the glory of overcoming death by resurrecting a dead body), so when the tall, strong man started to move, the doctor ran, full of fear, abandoning the creature. The father did not have empathy for his own child because selfishness leads us to self-preservation.
Later, when making contact with civilization, the Creature was already aware of his hideous appearance, which encouraged him to be even more gentle and kind. Unfortunately, his attempt was worthless – people would still hate him.
Despite the Creature’s belief that this hate was caused by his ugly appearance, it can be said that even if he were a good-looking person, society would still isolate him because he had a different constitution. He was stronger than anyone else and he was not born from a woman, which would cause both disgust and fear (what is hate but a pretty name for fear?).
In the independent film Womb, starred by Eva Green and directed by Max Richter, we can see exactly what would happen to someone whose appearance was absolutely normal, but who was born in a unusual way.
Rebecca gives birth to her dead boyfriend’s clone. The child is loved and accepted by all until the day people find out under what circumstances he was born. From this day on, Rebecca and her child become social pariahs.
So even if the Frankenstein’s Monster were not a monster, but a handsome man, he would still be a victim of society’s prejudice, for “prejudice is the child of ignorance” (Hazlitt, William).
Over time, the most famous Literature outsider became a mad, belligerent threat to humanity. He, that sworn that if he only could have a single friend, a girlfriend, maybe, he would be happy and harmless.
Although Mary Shelley gave a tragic end to her outsider in Frankenstein, John Logan, Penny Dreadful’s author, tends to be a bit more optimistic about the Creature’s future, which makes sense, since the perspectives for people who are somehow different have changed a lot since the Victorian times.
Nowadays, outsiders are done. They cannot stay quiet anymore and, thanks to the Internet, they can reunite more easily and actually have a voice to fight for respect and social acceptation.
Everything that makes us unique is allowed to be out of the closet and everyone should be proud of these characteristics.
“There is no exquisite beauty without some strangeness in the proportion.”
Edgar Allan Poe
Frankenstein - Uma metáforta para o "outsider"
Como objetivo principal, este artigo tem a discussão da alteridade dentro da obra de Mary Shelley, sua representação nas artes e na maneira como
lidamos com ela em sociedade.
Embora tenha sido rejeitado no livro desde o momento em que fora trazido à vida, o Monstro de Frankenstein encontrou um lugar no coração da audiência de “Penny Dreadful”.
A série de televisão apresenta-nos uma nova versão das histórias clássicas de horror. No drama vitoriano, personagens como Drácula, Frankenstein e Dorian Gray vivem na mesma Londres lúgubre e interagem uns com os outros graças a Vanessa Ives, a protagonista que conecta todos.
Por sofrerem profunda marginalização, essas famosas anomalias – principalmente o Monstro de Frankenstein – são usadas para representar um personagem que, talvez, possamos reconhecer na figura de um amigo, de um parente ou, até mesmo, no espelho: o “outsider”.
O dicionário Cambridge define “outsider” como “indivíduo que não está envolvido com um grupo específico de pessoas ou com uma organização ou que não vive em um lugar específico” ou “pessoa que não é querida ou aceita como membro em um grupo específico, organização ou sociedade e que se sente diferente daqueles que são aceitos” e até “pessoa ou animal com chances mínimas de vencer”. Ao analisarmos tais definições, não é muito difícil imaginar que se alguém é um outsider, talvez goste de se sentir representado por um personagem televisivo, o que explica o porquê de a audiência possuir tamanha afeição pelo Monstro. O fato é que, por mais estranho que pareça, um número significativo de pessoas é “outsider”. Na verdade, a maioria de nós é.
Grande parte da população sente-se rejeitada e subestimada em algum momento da sua vida. Não é preciso ser um zumbi de verdade para que o encarem como se você o fosse. Talvez, só seja preciso usar um tipo diferente de roupa, ser um homem que usa batom ou uma mulher que trabalha em um ambiente de hegemonia masculina. Você só tem de ser pobre, imigrante ou introvertido...
Às vezes, a razão pela qual alguém se sente um “outsider” é até “boba”.
Você pode estar cercado de pessoas um tanto mais ricas que você. Pode ser novo na escola. Qualquer coisa. O que muda é o grau de “outsideridade” que se tem.
Certamente, se você é uma estrangeira judia e lésbica de pele negra em uma cadeira de rodas, terá mais chances de sofrer discriminação do que alguém que corresponde ao que a sociedade diz ser aceitável.
Entretanto, a ideia principal continua a mesma: a maior parte de nós já sentiu, pelo menos um pouco, o que é a injúria da marginalização.
Contudo, se isso é verídico, se quase todos sabem o quão difícil é ser um “outsider”, por que as pessoas geralmente não demonstram empatia pelos chamados esquisitos? Bem, agora podemos voltar para o Frankenstein – dessa vez, o livro.
Quando Doutor Frankenstein estava dando vida à sua criatura, não pensava no que se faria dela quando houvesse terminado. Logo, quando o cadáver robusto e monstruoso começou a mover-se, o médico correu, repleto de horror, abandonando a criatura. O pai não teve empatia pelo próprio filho, pois o egoísmo leva-nos à autopreservação.
Mais tarde, ao fazer contato com a civilização, o Monstro já estava a par de sua terrível aparência, o que o influenciou a ser ainda mais gentil e bondoso. Infelizmente, sua tentativa foi infértil – ainda assim o detestavam.
Não obstante, a crença do Monstro de que era a sua feia aparência a causa de tal ódio, pode-se dizer que, mesmo se agradável aos olhos, ele seria isolado pela sociedade, uma vez que possuía uma constituição física diferente: era mais forte do que qualquer outro e não havia nascido de uma mulher, o que causaria tanto aversão quanto medo (e o que é ódio senão um nome bonito para o medo?).
No filme independente, “Ventre”, estrelado por Eva Green e dirigido por Max Richter, podemos ver exatamente o que aconteceria com alguém de aparência normal, mas, cujo nascimento houvesse ocorrido de forma não convencional. Rebecca dá à luz o clone de seu falecido namorado. A criança é amada e aceita até que se descobrem as circunstâncias em que ela nascera.
Desse dia em diante, Rebecca e seu filho tornam-se párias sociais.
Portanto, ainda que o Monstro de Frankenstein não fosse um “monstro” e, sim, uma beldade, continuaria a ser vítima do preconceito da sociedade, pois “o preconceito é filho da ignorância” (Hazlitt, William).
Com o decorrer do tempo, o mais famoso “outsider” da Literatura tornou-se uma ameaça furiosa e beligerante para a humanidade – ele que jurara que se pudesse ter um único amigo, uma namorada, quem sabe, seria feliz e inofensivo.
Apesar de Mary Shelley ter dado um final trágico ao seu “outsider” em Frankenstein, John Logan, autor de “Penny Dreadful”, tende a ser um pouco mais otimista em relação ao futuro do Monstro, o que faz sentido, uma vez que as perspectivas para as pessoas que são de alguma forma diferentes mudaram consideravelmente desde a Era Vitoriana.
Atualmente, os “outsiders” estão fartos. Já não podem calar-se e, graças à internet, conseguem reunir-se mais facilmente e, de fato, ter uma voz para lutar por respeito e por aceitação social.
As características que nos tornam únicos têm permissão para sair do armário, logo todos deveriam orgulhar-se delas.
“Não há beleza apurada sem algo de estranho nas proporções.”
Edgar Allan Poe
Giulia Schmidt
RA 81620465