Saturday morning,
TV is on and I am sitting in a reclining chair, which I have bought few days
ago, having cup of coffee I had just made for myself. I look at the dresser on
the right and there I see picture frames. Photographs of my boyfriend, my
family, and me. I remember some funny moments and laugh.
Someone knocks; I
look into the gap under the door and see the shadow of the person. I wonder who
it is. I'm new here, I came from the countryside and I just moved this week.
Who would it be? I don’t know why but I'm shaking. Is the receiver want to
welcome me? No, it does not happen here. It must be some neighbour asking to
turn down the television, which probably might be true. However, I am the only
one living on this floor. Maybe it’s Edu, I asked him to come over and stay
tonight and make me some company… However, I doubt it because he said would
come later. I look myself in the mirror to check if I’m at least presentable.
This door has no spyhole; I’m so tense and nervous for not knowing who is this.
I think it’s my brother, he said he would pass by to see me, didn’t said when.
What a doubt.
Another knock on
the door. Oh my god, the apartment is a mess, full of boxes. I hadn’t unpacked
yet. I’m not expecting any delivery; I don’t remember asking for anything and
the porter would call the buzzer ... My God, I got butterflies in my stomach.
I'm afraid to be someone planning to do me some harm, being aware that I’m
vulnerable and that’s common in big cities. I remember reading something
similar in news when I lived with my parents, about a girl that suffered a
harassment by her neighbour. Should I answer the door or not? I confess I do
not want to answer. But ... what if someone needs help? It could be any
neighbour that had an accident, I do not know... Stop this crazy shit. It must
be nothing. Every time someone knocks on the door, am I going to stay like
this? It's true, what a paranoia. I laughed at myself. I’ll look for a
psychologist as soon as I can. I must have some anxiety problem, I'm even sweating.
I take a deep
breath and some courage to open the damn door. But I hesitate before opening
it. Oh no ... I do not want to open it. I'll pretend there's no one but it’s
hard to pretend there's no one while the television is loud like that, isn't it?
Now I have to open it. I breathe again. Shaking, gripping the door handle and
unlocking the door. Now there is no turning back.
I slowly turn the
knob and feel the lock come out of the jamb. I open the door slowly, and the
light beam from the hallway enters. I feel a shiver run down my spine.
I clench my fists
in case it is needed to punch the person, even if I do not have the strength to
do so. In seconds, I pull the door in at once. When I do, I'm surprised...
- Hi, I'm an Ana
from the apartment above. This week didn’t go shopping, can you give me some
coffee powder?
A
PORTA
Sábado de manhã, a
televisão está ligada e estou sentada numa poltrona reclinável, que comprei
alguns dias atrás, tomando café que acabei de preparar. Olho a cômoda à direita
e lá vejo porta-retratos. Nas fotos eu, meu namorado e minha família, relembro
alguns momentos engraçados e rio.
Ouço alguém bater na
porta, olho para o vão embaixo dela e vejo a sombra da pessoa. Pergunto-me quem
seja. Sou nova aqui, vim do interior e me mudei esta semana. Quem será? Nossa,
estou tremendo. Será que é o síndico querendo me dar boas-vindas? Não, isso não
acontece aqui. Deve ser algum vizinho pedindo para eu abaixar a televisão,
acredito que esteja alta mesmo. Mas... só eu moro neste andar. Pode ser o Edu,
chamei-o para dormir aqui e me fazer companhia. Não deve ser, ele falou que só
viria mais tarde. Olho-me no espelho para ver se estou pelo menos apresentável.
Essa porta não tem olho mágico, que ruim.... Estou toda tensa aqui sem saber
quem é. Acho que é meu irmão, ele falou que passaria aqui para me ver também...
só não deu uma data certa. Que dúvida!
Ouço outro bater na
porta. Ai meu deus, o apartamento está uma bagunça, cheio de caixas. Não as
desempacotei ainda. Eu também não estou esperando nenhuma entrega, não lembro
de ter pedido alguma coisa. E outra, o porteiro avisaria pelo interfone... Meu
deus, que frio na barriga. Estou com medo de ser alguém de má fé... vai que
alguém ficou sabendo que moro sozinha e veio tentar fazer algo comigo, isso é
comum em cidade grande. Recordo-me de ter visto algo no jornal enquanto ainda
morava com meus pais, alguma notícia envolvendo uma menina do interior que fora
abusada por um vizinho. Será que atendo a porta ou não? Confesso que não quero
atender. Mas… e se for alguém precisando de
ajuda?
Pode ser um vizinho que
sofreu um acidente em casa, sei lá... Para de ser louca, não deve ser nada.
Toda vez que alguém bater na porta você vai ficar assim? É verdade, que
paranoia. Rio de mim mesma. Vou procurar um psicólogo quando puder. Devo estar
com algum problema de ansiedade, estou até suando.
Respiro fundo e tomo
coragem para abrir a maldita porta. Vou até ela, mas hesito antes de abri-la.
Ah não... não quero abrir. Vou fingir que não tem ninguém... difícil fingir que
não tem ninguém com a televisão alta desse jeito, não é? Agora vou ter que
abrir. Respiro novamente. Tremendo, seguro a maçaneta e destranco a porta.
Agora não há mais volta.
Lentamente giro a
maçaneta e sinto a tranca sair do batente. Abro a porta devagar e o feixe de
luz do corredor começa a entrar para dentro. Sinto um arrepio percorrer a minha
espinha.
Fecho a outra mão para
que, caso precise, acerte a pessoa bem na fuça, mesmo que não tenha força para
isso. Num lapso de segundo decido escancarar a porta de uma vez. Quando o faço,
me surpreendo...
– Oi, sou a Ana do apartamento de cima. Essa
semana não fui ao mercado, você pode pôr um pouco de pó de café nessa xícara para
mim?
Sued Lima
RA 201401698
